04/01/2013

Jesus, a denuncia e a esperança


Muito se lê hoje sobre a dicotomia entre esperança e denuncia das injustiças e imoralidades da nossa sociedade. Muitas pessoas já perderam a esperança, mas como não a querem renegar dos cânones da sua teoria da fé, engendram uma dicotomia meio desajeitada entre ambas e que no fim não deixa esperança a ninguém. Não existe verdadeira esperança sem verdadeira denuncia e não existe verdadeira denuncia sem esperança. Há uma diferença entre "mandar umas bocas" mais ou menos populistas no FB, nos blogs, nos comentários dos jornais online e denuncia. A denuncia verdadeira nunca é cobarde e inconsequente. A verdadeira denuncia tem um preço, que pode ser a própria vida. A denuncia não é feita nas trincheiras, no anonimato dos nossos teclados. Há uma linha entre a calunia, a infama, a murmuração e a denuncia. Essa linha é o nosso rosto, é o não ter receio de chegar perto de quem ou quê, que queremos denunciar, é enfrentar e trazer uma alternativa. Jesus denunciou muita coisa, mas sempre trouxe uma alternativa, nunca deixou ninguém sem esperança, nem mesmo aqueles que ele denunciava ao apelar ao arrependimento. Perante Zaqueu, um iníquo cobrador de impostos, agiota da altura, denunciou o seu estilo de vida e exploração imoral do próximo, mas dentro da sua própria casa. É preciso ter espinha dorsal para fazer isto. É que denunciar quem está longe, quem nunca estamos face a face, quem não frequentamos a "sua casa", é muito mais fácil do que fazer o tipo de denuncia que Jesus fazia. Há quem encha o peito para denunciar quem está longe, mas lhes falta fibra para denunciar aquilo que lhes está próximo. A denuncia de Jesus sobre Zaqueu resultou em esperança para este vigarista da altura, ao restituir a quem tinha prejudicado e encetar um novo estilo de vida. " Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa." Lucas 19:5. A verdadeira denuncia tem um rosto, tem proximidade e tem consequências, trazendo esperança até a quem é denunciado. Quantos de nós estamos dispostos a entrar em casa de quem queremos denunciar? Será que só somos valentes e corajosos na segurança do nosso anonimato? Quantos de nós estamos dispostos a "entrar na casa" e denunciar? Marcar uma reunião com um presidente da Junta ou da Câmara, ou de seja de quem for, não para pedir uma benesse qualquer, mas para denunciar alguma injustiça e apresentar uma solução? Ou será que "em casa" somos sempre condescendentes, politicamente correctos e perdemos a coragem e peito feito que demonstramos no anonimato? Há muitas situações, injustiças, autenticas imoralidades sociais que necessitam de denuncia urgente, mas da verdadeira denuncia, da denuncia como Jesus fazia, que tem um preço pessoal, que tem o nosso rosto, que custa, que tem consequências, que traz uma alternativa, não daquela "denuncia" feita no conforto da nossa segurança, distancia e anonimato, que apenas "acalma" as nossas consciências mas que não faz nada por quem sofre as consequências daquilo que supostamente queremos denunciar. Jesus foi um Homem de denuncias e de esperança, porque percebeu que o que ele denunciava lhe podia custar a vida.... e custou.