05/10/2009

Guetos: não obrigado

Local onde uma minoria está separada do resto da sociedade”. Esta é a definição do dicionário Português para a palavra “gueto” ou “ghetto”Ao olhar para a vida de Jesus, salta imediatamente á vista a sua postura antí segregação, fosse ela de que ordem fosse. Era frequentemente visto na companhia de pessoas ou grupos de pessoas que eram considerados marginais na cultura Judaica, o que lhe trouxe bastante oposição e criticas por parte do “status quo” da altura. Desde cedo que se percebeu que Jesus tinha uma postura de afronta ao exclusivismo religioso, colocando assim na génesis e ADN do cristianismo o valor da inclusão, não como prémio da mudança, mas como único caminho para a transformação individual e, consequentemente, social. O amor, como elemento nuclear da espiritualidade cristã, tem uma expressão social: INCLUSÃO. Se o amor é a marca espiritual do cristianismo então a inclusão é a sua marca social.

Creio que a inclusão tem duas vertentes que devemos considerar: A vertente de incluirmos e a de nos deixarmos incluir.

Gostaria de começar pela segunda vertente (deixarei a primeira para um outro post), ou seja, a de nos deixarmos incluir. É certo que a bíblia nos ensina que nós somos “separados” para Deus, quando resolvemos estabelecer um relacionamento com Deus e seguir os seus planos e propósitos para nós. No entanto, creio eu, que esta é uma separação de identificação espiritual e nunca uma segregação social. Eu não preciso de me “isolar” do resto do mundo para viver a minha fé. Mas que tipo de fé é esta que precisa de um “isolamento” quase clínico para sobreviver, não podendo ser incluída e partilhada, com receio de contagio e contaminação, com aqueles que não a têm? Só é inclusivo quem é seguro e só se deixa incluir quem tem a firme certeza do que crê. É por isto que a minha teologia e sensibilidade é “arranhada” com a proliferação de “guetos cristãos”, em que determinadas pessoas com interesses, profissões e dons similares se reúnem, formando mais um grupo cristão disto ou daquilo ao invés de nos incluirmos na vida social. É por isto que eu não acredito num partido cristão, mas em cristãos nos partidos políticos. Prefiro, ao invés de uma escola cristã, de professores cristãos nas escolas, que são de todos. Não me agrada o conceito de arte cristã, mas agrada-me cristãos que fazem arte. A proliferação destes guetos torna o cristianismo esquizofrénico, alienado, irrelevante, no fundo, sufocando o poder de uma mensagem que necessita de ser “incluída” no dia a dia das pessoas, na politica, nas artes e cultura, na economia. Porque é que tem de haver sempre uma “versão cristã” de tudo? Será porque as existentes não funcionam bem? se assim for, então incluamo-nos nelas e sejamos agentes de mudança...ou será porque temos receio de nos incluir, de ter contacto com o “mundo real”? Provavelmente a “grande fé” dos impulsionadores deste “guetos cristãos” não é assim tão forte, quando confrontada, desafiada ou contrariada. O mais fácil, mas também menos eficaz, é fugir e formar um gueto, pois aí ela, a fé, está mais segura.

Mas, sinceramente, não era esta a fé de Jesus. Ele nunca se escondia ou fugia, na face da contrariedade, mas tinha uma convicção inabalável do Seu propósito. Eu quero ser como Ele. A mensagem de Cristo é poderosíssima, forte, forjada na adversidade e resistente a tudo. A criação destes guetos é um mau serviço que lhe prestamos. Vamos nos deixar incluir, e se a nossa fé e mensagem é realmente assim tão transformadora, vamos colocá-la onde ela mais é precisa.