Aqui e ali tenho verificado uma certa tensão entre fé e realidade, entre consciência social e alienação, entre a denuncia das injustiças e a proclamação da esperança. Sou absolutamente contra todo o tipo de alienação, creio que o cristianismo e a fé não são, de todo, uma forma de alienação, quer pessoal, quer social. Não creio em guetos (já escrevi um post no meu blog sobre isto), mesmo com um "branding" espiritual/religioso. Observo que muito dos assuntos da religião, das igrejas, são irrelevantes para o cidadão. O que aí se debate, o que aí é central nas preocupações e acções é sem dúvida, muitas vezes, reflexo de uma alienação da realidade social em que vivemos. Mas eu não acredito que ter uma mensagem de fé e esperança no meio das dificuldades seja uma alienação da realidade, e um discurso desadequado e sem substância. A linguagem da fé e da esperança é substanciada, não na leitura fria dos factos, mas tem uma substancia. Qualquer leitura da vida que não seja baseada em algo com substancia é mesmo alienação, mas a fé é também uma substância e uma evidência. Quando alguém critica a postura e visão optimista da vida, por parte de alguém de fé, com o argumento de que ele "não vê as evidências" e que não tem substância, é porque desconhece o ADN da própria fé. A fé tem uma substância, a palavra infalível do próprio Deus, que nos permite ter uma postura de esperança, e tem uma evidência, que permite ver o que ainda não é visível. "A fé é a substancia das coisas que se ESPERAM, e a evidência das coisas que NÃO SE VÊEM" Hebreus 11:1. A fé, nunca negando os factos, consegue dar-lhes uma leitura de esperança. A leitura dos factos sem a fé é sempre uma leitura limitada ao tempo, ao conhecimento presente e até as circunstâncias do momento, que como todos sabemos, são efémeras e mutáveis. A fé tem a capacidade de dispensar uma perspectiva eterna daquilo que é temporal. Por isso, não apedrejemos a linguagem da fé, por causa do mau serviço da religião alienada e da cultura de gueto que algumas comunidades cristãs alimentam. Mais do que nunca a nossa sociedade precisa da esperança que só a fé pode dar.
22/10/2012
Fé, alienação e intervenção social
Publicada por Mário Rui à(s) 15:38 0 comentários
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